segunda-feira, 11 de julho de 2011

Só em caso de emergência



O meu ginecologista era uma simpatia. Médico jovem, do convênio, dava conta das consultas de rotina (que costumam durar, no máximo, 20 minutos, porque a fila na sala de espera tá gigante), papa-nicolau, uma cistite aqui outra ali... Já nem ficava constrangida diante dele, mesmo naquela ingrata posição que nós, mulheres, temos que nos submeter de tempos em tempos. 


Abre parêntese. Os homens reclamam, reclamam do tal exame do toque, que devem fazer por volta dos 40 anos... E a gente, desde a adolescência, escancara nossa intimidade na cadeira do ginecologista!
Fecha parêntese. 

Continuando... Contei pro Doutor sobre o resultado positivo do teste de farmácia. Ele pediu um exame Beta hCG só por desencargo de consciência, pois disse que as chances de um "falso positivo" eram quase nulas. No final da consulta, me parabenizou e marcou uma data para ver o resultado dos outros exames e dar início ao Pré-Natal. Ele seria então o responsável pelo acompanhamento da gravidez e do parto. Tá certo que eu não conhecia ninguém que tivesse feito um parto com o Doutor, mas via um monte de fotos de bebês na recepção, com dedicatórias das mães agradecendo-lhe por tê-los colocado no mundo.

E tudo correu normalmente, até algo fora do normal ter acontecido comigo.  Estava no meio do nada, em São Francisco Xavier, quando, ao ir no banheiro, percebi um pequeno sangramento - o desespero de qualquer grávida. Na hora, falei com a minha mãe, e a frase dela foi "liga imediatamente pro seu médico!". Claro, ligar pro Doutor! A primeira coisa que eu deveria fazer. Porém, faltava um detalhe decisivo - eu não tinha o telefone do Doutor.     
    - Como você não tem o telefone do seu médico, filha?   
    - Não tenho. Nunca pedi e ele também nunca me deu...  
A solução foi ligar para uma prima da minha mãe, que havia sido obstetra e agora só fazia ultrassom. Ela me acalmou, recomendou repouso e pediu que eu ligasse para o Doutor segunda de manhã, "sem falta". Provavelmente, eu teria que fazer um ultrassom. 

Oito horas da manhã do dia seguinte, telefonei para o consultório do Doutor. Contei o que tinha acontecido e ele me alertou:    
    - Qualquer sangramento pode envolver risco de aborto. Vá para a Pró-Matre e faça um ultrassom o quanto antes.
Até aí, tudo dentro dos conformes... Antes de desligar, pensando no ocorrido, achei importante fazer uma solicitação:    
     - Doutor, será que você poderia me dar o número do seu celular, caso haja alguma emergência?  
Do outro lado da linha, silêncio. Antes de repetir a pergunta, pensando que ele não tinha escutado, veio a resposta:    
     - Olha, Marina, vou te dar meu celular, mas é só em caso de emergência mesmo, tá? (Pode ler a frase do jeito que tá grifado. Foi essa entonação que ele usou!)
E começou a dizer os números. Eu nem consegui anotar, de tão abismada que fiquei. O silêncio era, na verdade, a reluta em dar o telefone. Agradeci a gentileza e desliguei.

Amigo, você escolheu ser obstetra! Não sei se te falaram, mas muitos bebês não marcam hora pra nascer. Não sei se te falaram, mas as grávidas podem ter algum problema fora do horário comercial. Se não quisesse correr o risco de ser incomodado na madrugada, aos domingos e feriados, escolhesse outra especialidade médica. Cirurgião plástico, dermatologista, médico do trabalho, sei lá...  Claro, ele devia partir da premissa: em caso de emergência procure o pronto-socorro e depois (do café da manhã, de preferência) me ligue no consultório. Amigo, fica tranquilo, porque eu jamais te ligaria pra falar de um enjôo, de pés inchados, de desejos estranhos. E isso, você nem precisaria ter dito. Eu só ligaria, mesmo, em caso de emergência. Pra te falar de um sangramento, por exemplo.  O bom-senso também é da minha família.

Depois dessa, decidi que o Doutor não era o tipo de médico que queria que acompanhasse minha gravidez. Devo ter dado azar, pois outras amigas foram super acolhidas por médicos que, inclusive, atendiam convênio. O meu Doutor, no entanto, só era Doutor na hora da consulta e pronto. 

Acabei indo parar em um médico particular, que antes da primeira consulta, já me deu todos os seus contatos. Gostei tanto do Dr. Soubhi, que ele virou meu médico de tudo. Aquele que a gente procura quando tá com amigdalite, infecção intestinal ou com dúvidas sobre o anticoncepcional. Aquele médico tradicional, que é médico por vocação, que trata o paciente como uma pessoa, e não como um corpo todo picotado pela especialização extrema que tomou conta da medicina. Aquele médico que, certamente, não achará absurdo se seu telefone tocar na madrugada, porque ele sabe que isso faz parte da profissão que escolheu.

5 comentários:

  1. Adorei esse post! Acho que sou uma das pessoas que deu sorte com obstetra e pediatra, viu?? Tanto minha obstetra quando o pediatra da minha filha me deram todos os seus contatos no primeiro encontro e me deixaram super à vontade para ligar quando precisasse... e algumas vezes precisei mesmo. É bom saber que podemos contar com (alguns d)eles. Beijo grande.

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  2. Bem feito pra esse primeiro Doutor, viu?
    Adorei!
    Beijos!

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  3. Depois dessa tb não ficaria segura de continuar com ele. Ele foi infeliz no comentário, ainda mais pra vc que estava ligando pra falar de um sangramento. Acho que ele pode sim fazer essa observação, mas só para a grávida sem bom-senso, que liga em horário inadequado pra falar de enjôo, pés inchados, se pode comer isso ou aquilo.

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  4. o médico bacana era caro, má?

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  5. Ju, R$ 300,00 a consulta. E o parto não lembro direito, mas nada fora do normal. Vou te dizer que foi o dinheiro mais bem gasto.

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