segunda-feira, 29 de agosto de 2011

15 dias e 15 noites

Sair da maternidade. Coisa difícil. Porque lá, no geral, tudo vai de vento em popa. O bebê nem chora muito, as enfermeiras te ajudam na amamentação, trocam fralda, dão banho, esclarecem as dúvidas, resolvem problemas. Uma amiga sensata e super otimista me disse o seguinte: "Marina, se prepara! Filho é que nem brinquedo paraguaio: na loja, funciona que é uma beleza. Aí, você chega em casa, começa a dar defeitos e não aceitam devolução". "Legal, Renée! Fiquei bem mais tranquila agora!" Tive essa conversa no dia anterior à saída da maternidade. Diante da minha ansiedade e insegurança, a Renée (mãe do Caio, de um ano e meio), tentou me animar: "São quinze dias bem difíceis, mas, depois deles, você tira de letra e parece que já nasceu mãe. Pense sempre que o próximo dia será mais fácil." Valeu a intenção, Renée!

Antes de sair do quarto, senti o que me esperava. O leite resolve "descer" para o peito bem na hora de ir embora (nos primeiros dias, o bebê mama o colostro). Eu usava sutiã 42. Coloquei um 46. A enferemeira me alertou para não deixar o leite empedrar, pois no começo, a produção de leite pode ser muito maior que a demanda do bebê. Ou, seja, até equilibrar oferta e demanda, você tem que ORDENHAR (isso, que nem vaca mesmo); dar um jeito de tirar o excesso de leite dali - seja com bombinhas ou na raça. Resumindo, saí da maternidade com um puta mau-humor, porque meu peito estava inchado e dolorido demais. Fora que a enfermeira me ensinou a tal da ordenha e achei impossível.

Quando entrei no carro com o Felipe no colo, caiu a ficha. "Agora é comigo." No caminho, olhava pela janela com um olhar diferente. Sabia que a vida tinha mudado, mas ainda não sabia que mudanças eram essas. Cheguei em casa e fui recebida com cartaz de boas-vindas, banquete no almoço, tudo arrumadinho. Estranho. Eu não deveria estar feliz por chegar em casa? No lugar da alegria, sobrava angústia, ansiedade, preocupação. Aquela frase "será que eu vou dar conta" martelava meus ouvidos a cada cinco minutos. Nem fome eu tinha.

Fugi das primeiras trocas de fralda. Me aproveitava da desenvoltura do meu marido (que já era pai) e da empolgação da minha mãe para adiar essa difícil missão! Nem cogitei dar banho, afinal, o Felipe saiu da maternidade cheirosinho. "Fica pra amanhã!" De três em três horas, amamentava ele. Ele dormia, acordava, mamava, dormia, acordava, mamava, dormia... Aí, a noite chegou.

Nossa! A primeira noite. Como esquecer? Um calor insuportável e, pra completar, eu com a cinta pós-parto, me esquentando e me incomodando. O marido sugeriu: "Deixa que eu ficou do lado do Felipe, pois você precisa descansar." Hahahahah! Ele não acordou nem com o choro do bebê! Cada barulho diferente que o Felipe fazia era motivo pra eu passar por cima do meu marido, debruçar desesperada em cima do moisés (tipo um bercinho) e ver se ele tava respirando. Óbvio que essa ideia brilhante não resistiu à segunda noite.   E eu, que tinha o sono mais pesado do mundo, passei a abrir os olhos só com o arrastar dos chinelos no corredor. "Oi! Você é mãe? Prazer, meu nome é sono leve e, a partir de agora, vamos conviver por muito tempo."

Segundo dia, o Felipe no mesmo esquema: dormir, acordar, mamar, dormir... Resolvi que era hora de encarar a troca de fraldas sem ajuda. DIFÍCIL. Tinha medo de machucar o pequeno. Ele chorava, se mexia e me deixava ainda mais nervosa. E trocar a roupa toda, então? Sufoco. Me sentia uma inútil. Uma inútil e desajeitada, que não era capaz de trocar o próprio filho! Demorei uns três ou quatro dias para aprender e trocar sem trauma! Segundo dia... E teve o banho!

Na maternidade, eles ensinaram da seguinte maneira: lava a cabeça com o bebê enrolado na toalha. Depois, desenrola, lava o corpo e enrola de novo. Acho que para ele não sentir frio, sei lá. Bom, o que já era  complicado, ficou mais complicado. Minha mãe olhava aquilo e dizia: "Eu nunca vi um banho desses, em etapas." "Ok, mãe! Na maternidade ensinaram assim, eu vou fazer assim!" Que porcaria de banho, coitado! Abandonei o modelo "maternidade" de lavar bebês na segunda semana. E não me arrependi.

A maior dificuldade nesses primeiros dias foi lidar com meu peito. Eu produzia uma quantidade absurda de leite e o Felipe não mamava nem metade. De tempos em tempos, o leite empedrava e doía muito. Aí, tinha que fazer massagem para "desfazer" as pedrinhas e ORDENHAR. Cheguei a sentir enjoo de tanta dor. Essa história durou até eu e o Felipe encontrarmos o ponto de equilíbrio, quando a curva da oferta e da demanda, finalmente, se cruzaram...

Os dias passaram. Surgia o medo de engasgo, tédio por não sair de casa, calor... Mas também, apareciam os primeiros sinais de confiança, de cumplicidade, de maturidade (minha), de tranquilidade. No fim das contas, a Renée tinha razão. O dia seguinte era bem melhor que o anterior. Ao final da primeira semana, a vida estava menos complicada. E, ao final da segunda semana, aquilo tudo parecia muito familiar.

Quinze dias e quinze noites para descobrir que eu sempre soube ser mãe.




domingo, 21 de agosto de 2011

O parto sem glamour

Nove meses mais tarde, hora de conhecer a cara do pequeno. E na marra, porque ele tava bem acomodado dentro da barriga. Então, como quem vai no dentista, marquei a cesárea. Escolhi até o dia: 10/01/2010 (achei bonito!), oito horas da manhã. Vou contar agora, o parto que é o parto e um pouco depois do parto.

Cheguei na Pró-Matre às sete da madrugada, isso quer dizer que acordei às seis. A primeira etapa, na recepção, é bem burocrática. Assinar papéis, esperar o aval do convênio, esperar quarto disponível etc. Eu fui pra cirurgia ainda sem teto. Várias outras mães também acharam a data 10/01/10 promissora e agendaram o nascimento de seus filhos, o que resultou em super-lotação na maternidade.

Antes do centro cirúrgico, passei por uma sala de preparação. Respondi um questionário com mil perguntas sobre minha saúde, coloquei o avental, a touca, mediram pressão e temperatura. Em seguida, me colocaram na maca e me carregaram pelos corredores. Família desejando boa sorte. Aí o nervosismo apareceu. Eu tava morrendo de medo da anestesia...

Sala de parto
Quando entrei na sala de parto só tinha uma enfermeira cuidando dos preparativos. Ela conversou comigo, disse pra eu ficar calma, que não doía nada. Perguntou: "Quem vai nascer hoje?" Respondi que não havia decidido o nome ainda. Tocava Marisa Monte. O centro cirúrgico era bem claro (dã!), cheio de parafernálias médicas e parecia novo. Do meu lado esquerdo, o tal vidro translúcido.

Alguns minutos se passaram e notei um rosto familiar. Descobri que a instrumentadora do médico era a sua secretária, Solange, que tantas vezes me recebeu no consultório. Pequeno alívio. Ela, cheia de expectativa, falou: "Consegui essa sala com o vidro translúcido, não é demais?". Pra ser sincera, achava bem estranha a ideia das pessoas assistirem ao parto do lado de fora. Eu lá, toda aberta, umas dez mãos em cima de mim, e a galera na plateia. Tipo um "reality parto". Mas aí, a Solange explicou que o médico só acionava o dispositivo momentos antes do nascimento do bebê, pra mostrar à família mesmo, e, em seguida, desligava. Ok. Se é assim, vá lá...

O parto começou com 20 minutos de atraso porque o anestesista resolveu dormir um pouquinho mais. Ele me posicionou na maca, sentada, e pediu para que eu ficasse relaxada. Ahã. Super possível. Enquanto isso, meu médico segurou minha mão. Um, dois, três e... Agulhada na coluna. Vou ser sincera de novo: nem doeu tanto assim. Muito menos pior do que eu imaginava. O Dr. Soubhi saiu da sala para chamar meu marido, que ia acompanhar a cesárea.

Nisso, a anestesia começou a  fazer efeito. Aí, leitores, o bicho pegou. Primeiro que fiquei bem tonta, parecia que vinha um desmaio pela frente. E a sensação de não sentir nada da cintura pra baixo é bastante desagradável. Principalmente pra mim, que sou hipocondríaca, e ficava imaginando se o efeito da anestesia não passasse nunca. A equipe perguntava: "Consegue mexer o dedão do pé?", "Consegue levantar a perna?". Não, eu não conseguia mexer nada.

Quando o Dr. Soubhi entrou novamente na sala de parto (com o meu marido a tira-colo) soltou o seguinte comentário: "Nossa! Ela branqueou total!" Bacana, Dr. Soubhi! Minha hipocondria agradece! Grudei os olhos no monitor que media a frequência cardíaca e a pressão arterial, pra ver se eu chegaria viva no final da cirurgia! Colocaram o oxigênio e começaram a me abrir. Meu marido sentado, assistindo tudo e ainda narrando os acontecimentos para mim! A presença dele me tranquilizou e, aos poucos, parei de sentir o mal-estar inicial.

Lembro do anestesista ching-ling em cima de mim, empurrando a barriga pra baixo, pois o Felipe não queria sair de jeito nenhum. 8:47 eu vi o bichinho todo ensanguentado. Pausa dramática. Três segundos depois, ele abriu o berreiro. Grande alívio. (A gente ainda não sabe nada da vida de mãe, mas sabe que o bebê TEM que chorar logo quando nasce). Não vou tentar encontrar palavra para explicar o que senti naquele instante. Seria perda de tempo da minha parte e da de vocês, que estão lendo. Só posso dizer que é tudo muito intenso. Sentimentos de uma intensidade que jamais imaginei que sentiria na vida. Pronto. Paro por aqui.

Ah! O vidro translúcido. Quando acionaram o dispositivo, vi os olhares cheios de expectativa e ansiedade dos meus pais, da minha sogra e da minha enteada. E, quando o médico tirou o Felipe, mostrou para eles e fez um sinal de positivo, vi aqueles olhares se transformarem em lágrimas. Vi expressões apreensivas se transformarem em um monte de sorrisos que transbordavam orgulho e felicidade. Tenho que dar o braço a torcer e concordar que o tal vidro translúcido permitiu que eu compartilhasse o momento mais importante da minha vida com as pessoas mais importantes da minha vida.

O Felipe, que virou Felipe ali mesmo, rosto colado com o meu, foi fazer os exames de praxe e, em seguida, foi levado para o berçário. Meu marido saiu junto com a enfermeira e começou a terceira e mais demorada etapa do parto: costurar as sete camadas. Os médicos conversavam sobre eleições da reitoria da USP, opinavam sobre fulano, beltrano e afirmavam que, se conversavam tanto, era porque tudo corria bem.

Ali eu já estava tranquila. Ainda aproveitei a anestesia para tirar uma pinta da barriga. No final da cirurgia, o Dr. Soubhi deitou no chão e começou a se alongar. Figura. Um pouco antes de sair da sala de parto, comecei a sentir uma coceira bizarra. Meus braços coçavam muito! Perguntei o motivo daquela coceira toda e a médica auxiliar falou que era por causa da morfina presente na anestesia. Até podia dar um remédio pra diminuir a coceira, mas tinha risco de reduzir o efeito da anestesia e aumentar a dor. Escolhi a coceira.

Sala de recuperação
Fui para a sala de recuperação, esperar sentir minhas pernas de volta e esperar vagar um quarto também. Parte chata essa! A sala, na verdade, é uma grande enfermaria, dividida em cabines. E você fica ali, deitada, olhando pro teto, pensando na vida. Na sua e na que você acabou de parir. Tem gente que dorme. Admiro e invejo! Tem gente que reclama da coceira. Tem gente que pergunta se vai demorar pra sair daquele marasmo.

Conforme o efeito da anestesia passava (minhas pernas voltaram, uhuuu!!!), comecei a sentir uma dor beeem forte no corte da cesárea. A enfermeira me aplicou uma injeção e disse que só me liberaria pro quarto quando a dor diminuísse. 10, 20 minutos e a dor persistiu. Analgésico via oral. 10, 20 minutos e a dor persistiu. Marina desistiu. Entendeu que a dor não iria embora e mentiu. "Diminuiu a dor. Pode me liberar".

Quarto 
Cheguei no quarto quase duas da tarde. Familiares, amigos, filhos de amigos... todo mundo esperando pra dar os parabéns e saber como eu estava. Sentia tanta dor que, ao ver aquela pequena "multidão" à minha espera, cogitei pedir que me levassem de volta à sala de recuperação. O Felipe foi pro quarto logo depois, dormia um sono gostoso. Eu, sem forças, tentava contar da anestesia, da cirurgia, enfim... Cada risada, uma pontada!

No meio disso tudo, teve o momento amamentação. Um capítulo à parte, conforme contei em outro post. Recebi muitas visitas, o Felipe ganhou um monte de coisinhas novas e, ao final do dia, só me sobrou o cansaço. E a dor no corte. Lá pelas 11 da noite, duas enfermeiras foram me ajudar a tomar banho. Levantar da cama: missão impossível. Não conseguia estender o tronco, parecia uma velhinha corcunda.

E aí, no dia seguinte, um pouco menos de dor, um pouco menos de ansiedade e muito mais intimidade com o Felipe. De repente, você vira expert em "mamadas", segura o bebê com total desenvoltura e quer contar tudo isso para as visitas. Esse processo dura até o último dia de internação, quando você quase não sente mais dor, já está familiarizada com a cria e tudo vai às mil maravilhas. A tranquilidade a um botão vermelho de distância. É só chamar que a enfermeira resolve. Conselho de amiga: aproveite cada instante de paz na maternidade. Porque chegar em casa é um outro parto.




quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A relação entre umidade do ar e falta de texto

Com esse ar bizarro de São Paulo, não demorou e o pequeno ficou doente. Nada grave, mas o suficiente para deixá-lo em casa por alguns dias. Felipe em casa, mãe do Felipe impossibilitada de sentar na frente do computador por mais de cinco minutos consecutivos. Ou seja, nada de textos aqui no blog.

Felipe já está bem, voltou pra escola hoje. E eu comecei a escrever sobre o parto e o tal vidro translúcido que comentei no post anterior. Até sexta-feira publico. Sem falta!

Ah! Comprei um umidificador de ar. O pediatra (e outras tantas mães e pais) sugeriu. Ficou ligado na sala. Percebi uma grande diferença. O Felipe agradeceu. E meus olhos também! O ar desértico paulistano está ressecando meus olhos mais ainda por causa das lentes-de-contato.

É isso!
Beijos,

Marina Galeano

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Vai nascer! Onde?

Aos sete meses de gravidez, achei que era hora de conhecer algumas maternidades. Na verdade, as opções eram poucas: Pró-Matre, São Luiz, Santa Joana, São Camilo e Santa Catarina. Tinha boas referências desses lugares e, claro, estavam dentro do meu plano de saúde. De cara, sem conhecer, eliminei duas: Santa Joana e Santa Catarina. Por quê? Sei lá, acho que é porque sempre ouvi "tive no São Luiz" ou "tive na Pró-Matre".

Sobraram, portanto, duas alternativas. Marquei hora e fui até a Pró-Matre, na região da Avenida Paulista. Achei o lugar lindo! Cara de hotel. Tudo muito claro, luz agradável, novas instalações. Quarto espaçoso, iluminado, monitor que mostra o bebê no berçário. Fizeram questão de mostrar a sala de parto e falar de um tal "vidro translúcido" - antes de perguntar pra que raios servia aquilo, a "guia da excursão" disse que quando o médico acende uma luz, as pessoas que estão do lado de fora da sala conseguem ver tudo. Achei de gosto meio duvidoso, mas, no post sobre o parto conto se usei ou não o tal "vidro translúcido".

Enfim, saí de lá com uma boa impressão e decidida, mesmo sem conhecer o São Luiz. O critério usado para a escolha foi muito simples: localização. A Paulista fica bem mais perto da minha casa do que o Itaim. Pensei em facilitar as coisas pro meu marido e para a família, que fariam aquele caminho muitas vezes, durante os quatro dias de estadia.

Comuniquei o obstetra e perguntei sua opinião. Ele, apesar de chefiar uma equipe no São Luiz, me deixou totalmente à vontade e disse que seria bem atendida em ambos os lugares. A única ressalva:
- Marina, se você tivesse uma gravidez complicada, ou pressão alta, ou qualquer outra coisa que pudesse te colocar em risco no parto, indicaria o São Luiz. Lá, existe a estrutura de um hospital e você poderia ficar internada, se precisasse. Já na Pró-Matre, eles têm a UTI e todo o aparato necessário para o atendimento de emergência, mas, num segundo momento, você seria transferida, porque lá é só maternidade. Como, no seu caso, está tudo tranquilo, não vejo problema algum.

Então, resolvido. Pró-Matre, aí vamos nós. E olha, não me arrependi nada! Quando cheguei na sala de parto, tava tocando Marisa Monte. A auxiliar de enfermagem era uma simpatia e me acalmou bastante. O resto do parto, conto depois.

Minha crítica fica para demora em me arrumarem um quarto (e, óbvio, para a "cama" do acompanhante). A recepcionista falou que por causa do movimento (é, todos os bebês de São Paulo decidiram vir ao mundo dia 10 de janeiro de 2010), teríamos que esperar liberar uma vaga. Fora isso: comida excelente, atendimento de primeira. Todas as enfermeiras que passaram pelo meu quarto eram muito atenciosas, prestativas e pacientes. (DICA: explore-as bastante! Pergunte tudo. Peça pra te ensinarem a trocar fralda, a limpar as orelhas do bebê, a dar o banho, cortar unhas, a cuidar do peito...). Também eram muito cuidadosas com o pequeno e, de certa forma, afetivas.

Quando deixei a Pró-Matre, três dias após o parto, minha única vontade era... voltar pra Pró-Matre. Lembro perfeitamente da angústia que senti quando cheguei em casa e vi que, naquele momento, era o Felipe e eu (modo de dizer, tá? Tinha marido, mãe, pai, sogra, enteada pra dar aquela força). Sem botão de emergência, sem enfermeira pra socorrer, sem médico pra esclarecer as dúvidas. Sem a segurança que aquela parafernália toda te traz. E lá vem a vida de novo, jogando na cara: "É, isso, minha filha, agora é com você. Se vira!".

Foram 15 dias difíceis. Mas o que me consolava era saber que, o próximo dia, com certeza, seria menos difícil... E assim, aos poucos, descobri que sim, eu daria conta. Sim, eu seria capaz de trocar uma fralda com habilidade. Sim, eu seria capaz de tirar um "body" e, melhor ainda, colocar outro! Sim, eu seria capaz de aguentar (MUITAS) noites de sono picotado e sobreviver no dia seguinte. Sim, eu seria capaz de aguentar o peito dolorido durante a amamentação. Sim, eu seria capaz de ser mãe.

OBS: Assim como falei no post do Hospital Infantil Sabará, reitero que a impressão que tive na Pró-Matre, tem muito a ver com minha experiência. Conheci outras mães que amaram, outras que nem acharam tudo isso... No geral, as opiniões são bem positivas. E você podia colaborar com o blog e dizer aonde teve (ou está pensando em ter) seu filhote e se foi bacana... Vai, arruma um tempinho aí, enquanto espera a próxima mamada!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Leitura sugerida

Hoje, saiu um texto bem bacana no site Malvadezas, que eu adoro.
"Conselhos de uma não-mãe", escrito pela Carolina Mendes, uma blogueira bastante conhecida no mundo virtual, dá muito pano pra manga! Vale a pena ler. E pensar sobre!

Volto ainda essa semana com texto novo.
Beijos,

Marina Galeano

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Eu não chorei no parto

A minha gravidez foi uma coisa meio abstrata. Explico: ter um filho naquele momento não era meu sonho de consumo. Não era um evento super-esperado. Aconteceu. E tudo bem, porque, afinal de contas, a vida estava nos seus conformes. Então, mantive uma relação meio distante (se é que isso é possível) com a minha barriga.

Não tive nenhum sintoma incômodo de grávida (tipo enjoo, dor na coluna, etc). Levei uma vida bem normalzinha. Se não fosse pela barriga que teimava em crescer (e a bunda também) e pelos chutes revoltados do bebê, eu nem diria que esperava um filhote. Meio largada, assim mesmo.

Não fui daquelas grávidas que trava altos diálogos com o pequeno ser, ou que alisa a barriga o dia inteiro. Não planejei o quarto nos mínimos detalhes e muito menos as lembrancinhas da maternidade. Aliás, só me dei conta das tais lembrancinhas dois dias antes do parto. Não fiz milhares de planos pro meu filho. E não li trocentos livros de auto-ajuda destinado aos futuros (e curiosos) pais. (Tá, li um sobre gravidez, para entender o que acontecia em cada fase da gestação). Não me imaginava amamentando, ninando, dando banho, trocando fralda. Tudo parecia distante da minha realidade. Tão distante que o Felipe nem nome tinha, coitado. Só fui decidir FELIPE depois do parto, quando colocaram ele grudadinho no meu rosto. (Não, ele não tinha cara de Felipe, nem de Bruno ou o Caio, que eram as outras possibilidades. Havia, na verdade, uma propensão pelo Felipe mesmo).

E aí chegou o dia. Com hora marcada, inclusive, porque o bichinho não demonstrava nenhum interesse em dar as caras nesse mundo estranho e cheio de perigos. Quarenta semanas e zero centímetro de dilatação. Assim, dia 9 de Janeiro fiz minha mala (pijamas e mais pijamas, sutiãs gigantes, cinta, artigos de higiene, absorventes tamanho “jumbo”, máquina fotográfica etc) a do bebê, e fui dormir. Mentira. Não dormi nada. Fui comemorar o aniversário de uma super amiga minha, na casa dela. Ninguém acreditava que, no dia seguinte, eu iria “dar a luz” (licença poética). Nem eu! Lá pelas 23 hs, meu marido liga: “Escuta, você, por acaso, vai direto pra maternidade?”. Ok! Hora de (tentar) descansar um pouco. A última noite livre da preocupação eterna que habita a cabeça das mães.

Às 7 da manhã, chegamos na Pró-Matre. Às 8, na sala de parto (não me alongarei nesse assunto, porque é tema de um futuro post). E às 8:47, o Felipe nasceu. E chorou. E foi apresentado aos seus pais. Jamais conseguiria descrever com palavras essa sensação. Só sei que, apesar de tudo, eu não chorei no parto. Me peguei pensando se eu sou um monstrinho insensível por causa disso…

Enfim… sala de recuperação da anestesia, uma dor sem noção no corte da cesárea, quarto, rever o filho e começar a construir a intimidade com ele. Aí, vem o capítulo “amamentação”. Você totalmente desajeitada (e com dor), o bebê ainda com pouca habilidade e a enfermeira em cima dos dois, tentando “fazer acontecer”. No meio desse caos, visitas. A pseudo-tranquilidade só retornou às 9 da noite, quando restamos eu, o Felipe e meu marido no quarto.

Aos poucos, eu e o pequeno fomos nos entendendo. Ele reclamava de fome, eu botava ele no peito e tudo bem. Até que, numa das mamadas, percebi que o Felipe engasgou e ficou vermelho, vermelho. O primeiro grande susto da vida de mãe. O pai pegou no colo, começou a dar uns tapinhas nas costas… E eu “chama a enfermeira, chama a enfermeira”. Só que ele não tinha como chamar a enfermeira com o Felipe no colo, e eu não conseguia levantar da poltrona por causa da maldita dor no corte. Pausa dramática. Consegui apertar o botão e a enfermeira chegou rápido no quarto. O Felipe já tinha voltado a respirar normalmente, mas ela disse que ele ficou meio “molinho”, então, era bom examinar, por precaução.

Na hora que ela saiu levando o Felipe no colo, senti uma angústia sem fim. Um desespero, em pensar que poderia acontecer alguma coisa com o meu filho. A gente se conhecia há menos de 24 horas, e, de repente, minha existência só tinha sentido a partir da existência dele. Naquele momento, eu entendi que pouco importava se eu havia ou não chorado no parto. Naquele momento, eu entendi que ele era mais importante que tudo.