quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Deus no céu, pediatra na terra

Na manhã da alta da maternidade, a médica passou no quarto. Falou que estava tudo bem com o Felipe e que dali a três dias eu deveria levá-lo ao pediatra para ver se ele estava ganhando peso. Levá-lo ao pediatra. Qual pediatra? Já era pra ter um pediatra antes de ter filho?

Nessas horas a gente recorre às amigas experientes ou ao médico milenar da família, aquele que fez o parto da sua mãe quando você nasceu... Ou pega o livro do convênio e tenta a sorte grande. As sugestões que recebi tinham um problema de logística: longe da minha casa. Esse foi um dos critérios que decidi levar em conta na hora de escolher o pediatra.

Como eu confio quase cegamente no meu ginecologista/obstetra, resolvi pedir a ele uma indicação. Sabia que o Dr. Soubhi iria me sugerir alguém com uma linha de trabalho semelhante à sua. E assim eu cheguei até o Dr. Oscar.

Liguei para marcar a primeira consulta. Estava um pouco aflita, pois a pediatra da Pró-Matre comentou que o Felipe tinha um pouco de icterícia fisiológica e que eu precisava colocá-lo no banho de sol e acompanhar a evolução do caso. Pronto! O suficiente pra eu enxergar amarelo em todas as partes do corpo do meu filho e querer levá-lo ao médico ontem...

O Dr. Oscar só tinha horário na segunda-feira. Mas acho que, diante da minha ansiedade, fez um remanejamento das consultas e conseguiu me encaixar no dia seguinte, sexta-feira. Ponto pra ele. Ganhou um espaço no coração inseguro e aflito de toda mãe de primeira viagem.

Ficamos quase uma hora e meia conversando com o pediatra. Levei um caderninho cheio de perguntas, na tentativa frustrada de resolver as angústias maternas (ah, se um caderninho resolvesse...).  Aliás, tive até vergonha de mostrar aquilo pra ele. Perguntei sobre o banho, sobre amamentação (devo dar os dois peitos na mesma mamada? Ou o bebê deve esvaziar um e depois o outro?), sobre cólica, sobre posição de dormir, sobre os alimentos que eu podia comer, sobre fralda, sobre assadura, sobre soluço, sobre cortar unha, sobre chupeta, sobre Felipe e ar-condicionado (era janeiro, fazia um calor desgraçado), sobre Felipe e cachorro (o Guile, um Golden Retriever - meu presente de dezoito anos), sobre tanta coisa que eu nem me lembro mais.

E o Dr. Oscar achou brilhante minha ideia de anotar tudo no caderninho. E o Dr. Oscar me respondeu cada pergunta com a maior paciência do mundo. E o Dr. Oscar me deu o número do celular dele, dizendo pra eu ligar a qualquer hora, se fosse preciso. E eu saí do consultório do Dr. Oscar menos insegura e feliz por ter acertado o pediatra na primeira tentativa!

Sábado de carnaval. Praia. Calor insuportável. Casa sem ar-condicionado. Felipe com dois meses, chorando bastante, visivelmente incomodado. Boa hora pra testar a disponibilidade do médico. O Dr. Oscar me atendeu de imediato. Disse que, além de calor, o Felipe podia estar com cólica - coisa que ele nunca tivera até então. Ainda precisei ligar outra vez durante o feriado. Caiu na caixa-postal, mas meia hora depois, meu celular tocou e o pediatra me tranquilizou novamente.

Aliás, há uma semana, o Felipe teve uma conjuntivite. Resolvi o problema por telefone e, no dia seguinte, foi o Dr. Oscar quem me ligou para saber se estava tudo certo com o pequeno.

Para mim, pediatra e obstetra que não dão o número de um telefone particular (em caso de emergência, que fique bem claro) não servem. Pediatra, principalmente, tem de ser disponível. No primeiro filho, tudo é desconhecido e mãe necessita de segurança - com bom senso, obviamente. Também não vamos encher o saco do cidadão no almoço de domingo pra saber se o Aptamyl é melhor que o Nan.

Em geral, as pessoas me acham uma mãe tranquila. Confesso que grande parte dessa minha tranquilidade deve-se ao Dr. Oscar, que sempre me atendeu nos momentos em que mais precisei. Porque quando nem simpatia, nem reza e nem Tylenol Bebê resolvem, o jeito é apelar pro celular do pediatra!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A pior mãe do mundo

Pensei sobre esse post várias vezes, mas sempre dei um jeito de fugir dele. Porque escrever é uma forma de relembrar, e as lembranças daquele dia são horríveis. Decidi passar por cima dos meus fantasmas e ser generosa - compartilhar minha experiência para que ninguém precise passar pelo susto que passei e pela culpa que senti. Vamos aos fatos:

Sábado de sol e tempo ameno. Eu, o Felipe e uma amiga fomos na Jorge Alex, uma loja de sapatos aqui em São Paulo. Ela dirigindo e nós dois no banco de trás. O Felipe tinha três meses e estava no bebê-conforto. Como ele pouco se mexia, eu mantinha o péssimo hábito de não prendê-lo com o cinto de segurança (na cidade, em distâncias curtas). Chegamos no estacionamento da Jorge Alex e, na hora que tirei o bebê-conforto do carro, senti meu braço leve. Não entendi o que havia acontecido. De repente, olhei pro lado e o Felipe estava de cara no chão. De cara no chão! Com três meses, veja bem, eu derrubei o meu filho no chão! Ele, que dormia um sono tranquilo, deve ter tomado o maior susto quando caiu do bebê-conforto. 

Aquela cena foi uma das piores coisas que vivi. Desesperada, catei o pequeno do chão - que berrava sem parar. O rosto dele estava um pouco ralado no supercílio direito e no nariz. As pessoas tentavam ajudar, aconselhavam corrermos pro hospital. Eu fiquei que nem uma barata tonta. Não sabia se entrava na loja pra lavar o rosto dele, se entrava no carro de novo, enfim... Diante do meu desespero, o Felipe não se acalmava de jeito nenhum. A pessoa que deveria transmitir-lhe um pouco de segurança e conforto, não tinha a menor condição de fazê-lo. 

Decidimos ir embora, rumo ao São Camilo, hospital do lado de casa. No carro, eu chorava aos prantos, dizendo para a minha amiga que eu era uma merda de mãe, como podia ter derrubado meu filho no chão. Eu me sentia a pior mãe do mundo.

Aos poucos, o Felipe se acalmou. Coloquei ele no peito, santo remédio, e ele mamou bastante, mas ainda dando aqueles soluços de quem chorou demais. Recobrei parte da sanidade mental e tentei descobrir como ele tinha caído, de que altura etc... Falei com o pediatra antes de entrar no hospital. Eu, a mãe super-calma até então, tentava chorar menos ao telefone para que o Dr. Oscar entendesse minhas palavras. Ele perguntou se o Felipe havia ficado roxo, se teve convulsões e outros horrores mais. "Não, pelamordedeus, nada disso! Ele chorou muito por causa do susto e dos machucados, penso eu". Contei também que o Felipe mamou no carro e, em seguida, ficou bem calmo. "Marina, com certeza foi um grande susto. Mas, pela sua descrição, o Felipe parece estar bem. Não acho necessário levá-lo ao hospital. Apenas observe se algo diferente acontece com ele". 

Apesar do "diangnóstico" tranquilizador, a culpa castigava meus pensamentos. Continuava me sentindo a pior mãe do mundo só de pensar no que poderia ter acontecido naquele dia e em tantos outros em que fui imprudente dispensando o cinto de segurança do bebê-conforto. Ao chegar em casa, quis contar pro meu marido, por telefone, o ocorrido. Ele ficou tenso no início e foi se acalmando ao ter certeza que o Felipe estava bem. Sua reação foi a melhor possível. Não me culpou, não me julgou, não me recriminou. Aí, me peguei pensando se ele derrubasse o Felipe, qual seria a minha reação. A pior possível, certamente. A de mãe-histérica-desesperada-puta-da-vida com o pai que não sabe cuidar do filho direito. "Vai, Marina, toma essa na cara!" (e veio a vida de novo me dar lição de moral). 

Contei o episódio pra minha mãe, que se solidarizou. Conversando com ela, descobrimos como o Felipe caiu no chão. O bebê-conforto tem uma alça. Quando tirei ele do carro, essa alça, provavelmente, não estava travada. Ao estender o braço, a alça foi para trás, provocando um movimento de pêndulo no bebê-conforto. Ou seja, ele verticalizou e o Felipe deu com a cara no estacionamento da Jorge Alex. Ao chegarmos a essa conclusão, fiquei um pouco mais tranquila, afinal, a queda não foi tão grande assim. Quando estendi meu braço, o bebê-conforto estava próximo do chão. Mas nem por isso, me senti melhor. Aliás, toda vez que olhava pro Felipe e via os ralados no rostinho dele, me dava vontade de chorar.

Lembrei do conselho do Dr. Oscar, repetido, invariavelmente, a cada consulta: "Jamais, em hipótese alguma, deixe o Felipe sozinho no trocador, nem por um segundo! Se precisar virar as costas para pegar algum objeto, segure ele no colo e, só aí, pegue o objeto. Já tive muitos casos de pacientes que caíram do trocador quando a mãe se virou para pegar alguma coisa. No geral, as crianças se recuperam bem. Em compensação, os pais, dificilmente se esquecem do susto e da culpa".

Foi exatamente isso o que aconteceu, embora num outro contexto. Precisei passar por um susto gigante para  JAMAIS, EM HIPÓTESE ALGUMA, ANDAR COM O FELIPE SOLTO NO BEBÊ-CONFORTO.

Se me recuperei? Olha, a verdade é que, depois daquele dia, eu nunca mais voltei na Jorge Alex.