segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A pior mãe do mundo

Pensei sobre esse post várias vezes, mas sempre dei um jeito de fugir dele. Porque escrever é uma forma de relembrar, e as lembranças daquele dia são horríveis. Decidi passar por cima dos meus fantasmas e ser generosa - compartilhar minha experiência para que ninguém precise passar pelo susto que passei e pela culpa que senti. Vamos aos fatos:

Sábado de sol e tempo ameno. Eu, o Felipe e uma amiga fomos na Jorge Alex, uma loja de sapatos aqui em São Paulo. Ela dirigindo e nós dois no banco de trás. O Felipe tinha três meses e estava no bebê-conforto. Como ele pouco se mexia, eu mantinha o péssimo hábito de não prendê-lo com o cinto de segurança (na cidade, em distâncias curtas). Chegamos no estacionamento da Jorge Alex e, na hora que tirei o bebê-conforto do carro, senti meu braço leve. Não entendi o que havia acontecido. De repente, olhei pro lado e o Felipe estava de cara no chão. De cara no chão! Com três meses, veja bem, eu derrubei o meu filho no chão! Ele, que dormia um sono tranquilo, deve ter tomado o maior susto quando caiu do bebê-conforto. 

Aquela cena foi uma das piores coisas que vivi. Desesperada, catei o pequeno do chão - que berrava sem parar. O rosto dele estava um pouco ralado no supercílio direito e no nariz. As pessoas tentavam ajudar, aconselhavam corrermos pro hospital. Eu fiquei que nem uma barata tonta. Não sabia se entrava na loja pra lavar o rosto dele, se entrava no carro de novo, enfim... Diante do meu desespero, o Felipe não se acalmava de jeito nenhum. A pessoa que deveria transmitir-lhe um pouco de segurança e conforto, não tinha a menor condição de fazê-lo. 

Decidimos ir embora, rumo ao São Camilo, hospital do lado de casa. No carro, eu chorava aos prantos, dizendo para a minha amiga que eu era uma merda de mãe, como podia ter derrubado meu filho no chão. Eu me sentia a pior mãe do mundo.

Aos poucos, o Felipe se acalmou. Coloquei ele no peito, santo remédio, e ele mamou bastante, mas ainda dando aqueles soluços de quem chorou demais. Recobrei parte da sanidade mental e tentei descobrir como ele tinha caído, de que altura etc... Falei com o pediatra antes de entrar no hospital. Eu, a mãe super-calma até então, tentava chorar menos ao telefone para que o Dr. Oscar entendesse minhas palavras. Ele perguntou se o Felipe havia ficado roxo, se teve convulsões e outros horrores mais. "Não, pelamordedeus, nada disso! Ele chorou muito por causa do susto e dos machucados, penso eu". Contei também que o Felipe mamou no carro e, em seguida, ficou bem calmo. "Marina, com certeza foi um grande susto. Mas, pela sua descrição, o Felipe parece estar bem. Não acho necessário levá-lo ao hospital. Apenas observe se algo diferente acontece com ele". 

Apesar do "diangnóstico" tranquilizador, a culpa castigava meus pensamentos. Continuava me sentindo a pior mãe do mundo só de pensar no que poderia ter acontecido naquele dia e em tantos outros em que fui imprudente dispensando o cinto de segurança do bebê-conforto. Ao chegar em casa, quis contar pro meu marido, por telefone, o ocorrido. Ele ficou tenso no início e foi se acalmando ao ter certeza que o Felipe estava bem. Sua reação foi a melhor possível. Não me culpou, não me julgou, não me recriminou. Aí, me peguei pensando se ele derrubasse o Felipe, qual seria a minha reação. A pior possível, certamente. A de mãe-histérica-desesperada-puta-da-vida com o pai que não sabe cuidar do filho direito. "Vai, Marina, toma essa na cara!" (e veio a vida de novo me dar lição de moral). 

Contei o episódio pra minha mãe, que se solidarizou. Conversando com ela, descobrimos como o Felipe caiu no chão. O bebê-conforto tem uma alça. Quando tirei ele do carro, essa alça, provavelmente, não estava travada. Ao estender o braço, a alça foi para trás, provocando um movimento de pêndulo no bebê-conforto. Ou seja, ele verticalizou e o Felipe deu com a cara no estacionamento da Jorge Alex. Ao chegarmos a essa conclusão, fiquei um pouco mais tranquila, afinal, a queda não foi tão grande assim. Quando estendi meu braço, o bebê-conforto estava próximo do chão. Mas nem por isso, me senti melhor. Aliás, toda vez que olhava pro Felipe e via os ralados no rostinho dele, me dava vontade de chorar.

Lembrei do conselho do Dr. Oscar, repetido, invariavelmente, a cada consulta: "Jamais, em hipótese alguma, deixe o Felipe sozinho no trocador, nem por um segundo! Se precisar virar as costas para pegar algum objeto, segure ele no colo e, só aí, pegue o objeto. Já tive muitos casos de pacientes que caíram do trocador quando a mãe se virou para pegar alguma coisa. No geral, as crianças se recuperam bem. Em compensação, os pais, dificilmente se esquecem do susto e da culpa".

Foi exatamente isso o que aconteceu, embora num outro contexto. Precisei passar por um susto gigante para  JAMAIS, EM HIPÓTESE ALGUMA, ANDAR COM O FELIPE SOLTO NO BEBÊ-CONFORTO.

Se me recuperei? Olha, a verdade é que, depois daquele dia, eu nunca mais voltei na Jorge Alex.

15 comentários:

  1. Má,

    Imagino o susto, amiga... Mas basta ser mãe para estar exposta a isso, certo?
    Como ainda não tenho filho para contar alguma história, o que certamente acontecerá assim que eu tiver, conto sobre meus papais!

    Quando eu tinha 8 meses, meu pai chegou em casa e, para festejar, teve a brilhante idéia de me colocar no ombro, sabe? Veja bem: 8 meses! Não contente com isso, resolveu dar um pulinho... Debaixo da porta... Claro que bati com toda a força do mundo a cabeça! Até hoje ele e minha mãe dizem que foi um dos piores dias...

    Agora, em outra oportunidade, minha mãe me deu banho (agora eu já tinha uns 9 meses... rs) e me vestiu para irmos a alguma festinha... Me deixou na frente dela brincando e foi tomar banho, segundo ela super rápido. Foi fechar os olhos durante 1 minuto e sabe onde eu estava? Com a cabeça na privada, só com os pezinhos pra cima!!! (NOJO) Outro banho certamente rolou... mais o medo...

    Ou seja... Se meus pais, para mim, são os melhores pais do mundo, tenho certeza de que o Felipinho terá a mesma certeza com relação a você! CERTEZA!

    Beijos!

    ResponderExcluir
  2. Marina, sei bem do que está falando, mas no meu caso foi um pouco pior. Perdi a direção e tive um acidente feio de carro indo para Campinas. Não aconteceu nada com meu filho porque estava no bebê conforto. Ele só chorou um pouco com o susto, mas não teve nada. Chegou o resgate da rodovia e ele ficou rindo para o moço que veio nos atender. Graças à Deus não aconteceu nada, mas há dois anos me sinto uma péssima mãe toda vez que lembro disso. De qualquer forma, gosto de contar essa história para mostrar que a cadeirinha salvou a vida dele.

    ResponderExcluir
  3. Má, apesar do susto, delícia de texto! E, apesar de já ter ouvido a história, me emocionei pensando como ficaria se fosse comigo... aja coração!!! Bjos, Bel

    ResponderExcluir
  4. Má... me lembro qdo vc me contou essa história, tenho até uma foto com o Fefe desta "época".

    Mãe é mãe....sempre exposta a isso... Bom acompanhar suas histórias, pq assim, me praparo melhor para qdo chegar minha vez....

    bjss e saudades de vcs!!!

    ResponderExcluir
  5. Paulinha,
    você não sabe o quanto dei de risada te imaginando de perninhas pro ar e cabeça no vaso! Ô dó!

    Adorei sua participação. A ideia do blog é exatamente essa: trocar experiências. Seja como mãe, filha, tia, irmã, amiga da mãe... Não importa!

    E cada vez que eu converso com as mães, mais eu vejo que elas têm uma história pra contar: o filho caiu do trocador, do berço, engoliu uma moeda etc. Os acidentes são muito frequentes nesse universo...

    Agora, você, bateu o recorde!!! Hahahahaha

    Estou com muitaaa saudade. E se a visita acontecer no mundo real, também, ficarei bemmm feliz!

    Beeijos amore

    ResponderExcluir
  6. Angela,

    muito obrigada pela sua participação. Essa troca de experiências enriquece o blog e, principalmente, nosso papel de mãe.

    Imagino como devam ser difíceis as lembranças daquele dia e como você se culpa... Mas, uma pena, não temos o controle de tudo, jamais conseguiremos proteger nossos pequenos dos perigos desse mundo.

    Ao usar corretamente o bebê-conforto, você protegeu. Ele saiu de um acidente sem arranhões. Ponto pra você, mãe!

    Eu detesto lembrar do Felipe de cara no chão, mas acho importante alertar outras mães para a importância de deixar o bebê sempre preso.

    Muito obrigada por compartilhar sua história! Volte sempre.

    Beijos

    ResponderExcluir
  7. Bill,

    eu nem tenho palavras pra você. Só digo uma coisa:
    agradeço aos céus pelo Fefê poder ter uma tia de verdade, mesmo eu sendo filha única.
    Obrigada por tudo, sempre.

    Amo
    Beijo

    ResponderExcluir
  8. Mê,

    com certeza ser mãe é estar exposta a esse tipo de situação.

    Algumas sempre fugirão do nosso controle, outras podem ser evitadas, com algumas precauções, tal como eu disse na história...

    Porque o susto e a culpa arrasam a cabeça de uma mãe!!!

    E é isso aí! Quero poder ajudar (e ser ajudada) outras mamis, como você, num futuro beeeem próximo, né?

    Beijo

    ResponderExcluir
  9. Nossa Méri, nem gosto de lembrar daquele dia tb. Mas certeza que vc ficou beeem pior que ele, que na verdade deve ter chorado só pelo susto pq a raladinha no rosto não foi profunda, lembro até dele dar risada no banho qd vc foi lavar o rostinho logo depois.
    Acho que todas as mães tem pelo menos 1 dia que se sentiram "a pior mãe do mundo".
    Minha mãe contou que me deixou na cama de casal cercada por travesseiros e ficou na cozinha, e ela não sabe como, eu rolei na cama e cai no chão. Pior q ela nem percebeu, quem avisou foi o cachorro que corria do quarto até a cozinha sem parar e minha mãe foi atrás ver o que estava acontecendo. Ela tb se sentiu péssima, tinha o carrinho do lado e ela não sabia se eu tinha batido a cabeça na roda. Mas no final o trauma foi só dela mesmo.

    ResponderExcluir
  10. Nossa Má, que susto! Talvez eu tenha uma "vaga idéia" em como vc se sentiu...pois passeando com Léo um dia, tinha um cachorro solto na rua e nem liguei, segui em frente. Se eu tivesse dado meia volta, meu Léozinho não teria sido mordido por um cachorro louco que sangrou muito e ficou cicatriz. Ao mesmo tempo, meu lado mãe, (mesmo que de cachorro) me fez enfrentar aos chutes o cachorro que era um akita para salvar meu Léo...

    ResponderExcluir
  11. Dels, achiu que só acontecia esse tipo coisa comigo!
    Meu bb tbm se chama Felipe, está com dois meses, derrubei ele ontem há un 15,20cm do chão, aconteceu a mesma coisa, o bb conforto não estava com a alça travada. Que susto! A primeira coisa que bateu foi a cabecinha dele no chão, ele chorou pouco (eu chorei bem mais que ele), dei o peito pra acalmá-lo e ficou tudo bem, mas que susto. Meu marido estava sentado na cama, assistindo tudo, longe demais pra poder correr e ajudar, quando chegou o Fe já estava em meus braços. Deus! Que desespero!

    ResponderExcluir
  12. Isso aconteceu comigo hoje, vim procurar no google se alguma outra mae já tinha feito isso, pois me sinto a piorrr mae do mundo :( Exatamente igual, ele com 3 meses, sai do carro, a porcaria da alça nao estava travada e parece que em camera lenta ele caiu! De repente estava de barriguinha pra baixo, no chao da garagem!!! QUe susto!!!! Faz 2 horas que isso aconteceu, nao consigo nem dormir, só fico olhando pra ele!!!!

    ResponderExcluir
  13. Meninas,
    pela falta de tempo, deixei o blog um pouco de lado.
    Mas fiquei tão feliz em saber que algumas pessoas continuam lendo e que, de certa forma, identificam-se com as situações, que decidi retomá-lo... Na frequência que for possível.

    ResponderExcluir
  14. E para vocês duas que passaram por situação parecida... Ainda bem que ficou tudo bem! Vcs conseguiram se recuperar? I hope so...

    E o que tem de bb que cai da cama?
    Aff... É um susto atrás do outro. Nenhuma mãe merece passar por isso ;)

    ResponderExcluir
  15. aconteceu comigo hoje e pelo mesmo motivo,a alça do bebe conforto não estava travada e eu não vi. minha filha tem 2 meses e o bebe conforto estava no chão( foi a minha sorte) quando fui segurar pela alça, meu Deus ele virou com tudo e ela caiu de barriguinha no chão, chorou bastante pelo susto, eu só não morri por que tava sozinha em casa e pelo instinto de mãe que foi segura la e acalma la. até agora não acredito que deixei ela cair, liguei pra pediatra e ela pediu pra que ficasse de olho nela por 12 horas, em geral nossos anjinhos são protegidos nas quedas pelos anjinhos da guarda pq não tem explicação,só Deus mesmo.

    ResponderExcluir