domingo, 21 de agosto de 2011

O parto sem glamour

Nove meses mais tarde, hora de conhecer a cara do pequeno. E na marra, porque ele tava bem acomodado dentro da barriga. Então, como quem vai no dentista, marquei a cesárea. Escolhi até o dia: 10/01/2010 (achei bonito!), oito horas da manhã. Vou contar agora, o parto que é o parto e um pouco depois do parto.

Cheguei na Pró-Matre às sete da madrugada, isso quer dizer que acordei às seis. A primeira etapa, na recepção, é bem burocrática. Assinar papéis, esperar o aval do convênio, esperar quarto disponível etc. Eu fui pra cirurgia ainda sem teto. Várias outras mães também acharam a data 10/01/10 promissora e agendaram o nascimento de seus filhos, o que resultou em super-lotação na maternidade.

Antes do centro cirúrgico, passei por uma sala de preparação. Respondi um questionário com mil perguntas sobre minha saúde, coloquei o avental, a touca, mediram pressão e temperatura. Em seguida, me colocaram na maca e me carregaram pelos corredores. Família desejando boa sorte. Aí o nervosismo apareceu. Eu tava morrendo de medo da anestesia...

Sala de parto
Quando entrei na sala de parto só tinha uma enfermeira cuidando dos preparativos. Ela conversou comigo, disse pra eu ficar calma, que não doía nada. Perguntou: "Quem vai nascer hoje?" Respondi que não havia decidido o nome ainda. Tocava Marisa Monte. O centro cirúrgico era bem claro (dã!), cheio de parafernálias médicas e parecia novo. Do meu lado esquerdo, o tal vidro translúcido.

Alguns minutos se passaram e notei um rosto familiar. Descobri que a instrumentadora do médico era a sua secretária, Solange, que tantas vezes me recebeu no consultório. Pequeno alívio. Ela, cheia de expectativa, falou: "Consegui essa sala com o vidro translúcido, não é demais?". Pra ser sincera, achava bem estranha a ideia das pessoas assistirem ao parto do lado de fora. Eu lá, toda aberta, umas dez mãos em cima de mim, e a galera na plateia. Tipo um "reality parto". Mas aí, a Solange explicou que o médico só acionava o dispositivo momentos antes do nascimento do bebê, pra mostrar à família mesmo, e, em seguida, desligava. Ok. Se é assim, vá lá...

O parto começou com 20 minutos de atraso porque o anestesista resolveu dormir um pouquinho mais. Ele me posicionou na maca, sentada, e pediu para que eu ficasse relaxada. Ahã. Super possível. Enquanto isso, meu médico segurou minha mão. Um, dois, três e... Agulhada na coluna. Vou ser sincera de novo: nem doeu tanto assim. Muito menos pior do que eu imaginava. O Dr. Soubhi saiu da sala para chamar meu marido, que ia acompanhar a cesárea.

Nisso, a anestesia começou a  fazer efeito. Aí, leitores, o bicho pegou. Primeiro que fiquei bem tonta, parecia que vinha um desmaio pela frente. E a sensação de não sentir nada da cintura pra baixo é bastante desagradável. Principalmente pra mim, que sou hipocondríaca, e ficava imaginando se o efeito da anestesia não passasse nunca. A equipe perguntava: "Consegue mexer o dedão do pé?", "Consegue levantar a perna?". Não, eu não conseguia mexer nada.

Quando o Dr. Soubhi entrou novamente na sala de parto (com o meu marido a tira-colo) soltou o seguinte comentário: "Nossa! Ela branqueou total!" Bacana, Dr. Soubhi! Minha hipocondria agradece! Grudei os olhos no monitor que media a frequência cardíaca e a pressão arterial, pra ver se eu chegaria viva no final da cirurgia! Colocaram o oxigênio e começaram a me abrir. Meu marido sentado, assistindo tudo e ainda narrando os acontecimentos para mim! A presença dele me tranquilizou e, aos poucos, parei de sentir o mal-estar inicial.

Lembro do anestesista ching-ling em cima de mim, empurrando a barriga pra baixo, pois o Felipe não queria sair de jeito nenhum. 8:47 eu vi o bichinho todo ensanguentado. Pausa dramática. Três segundos depois, ele abriu o berreiro. Grande alívio. (A gente ainda não sabe nada da vida de mãe, mas sabe que o bebê TEM que chorar logo quando nasce). Não vou tentar encontrar palavra para explicar o que senti naquele instante. Seria perda de tempo da minha parte e da de vocês, que estão lendo. Só posso dizer que é tudo muito intenso. Sentimentos de uma intensidade que jamais imaginei que sentiria na vida. Pronto. Paro por aqui.

Ah! O vidro translúcido. Quando acionaram o dispositivo, vi os olhares cheios de expectativa e ansiedade dos meus pais, da minha sogra e da minha enteada. E, quando o médico tirou o Felipe, mostrou para eles e fez um sinal de positivo, vi aqueles olhares se transformarem em lágrimas. Vi expressões apreensivas se transformarem em um monte de sorrisos que transbordavam orgulho e felicidade. Tenho que dar o braço a torcer e concordar que o tal vidro translúcido permitiu que eu compartilhasse o momento mais importante da minha vida com as pessoas mais importantes da minha vida.

O Felipe, que virou Felipe ali mesmo, rosto colado com o meu, foi fazer os exames de praxe e, em seguida, foi levado para o berçário. Meu marido saiu junto com a enfermeira e começou a terceira e mais demorada etapa do parto: costurar as sete camadas. Os médicos conversavam sobre eleições da reitoria da USP, opinavam sobre fulano, beltrano e afirmavam que, se conversavam tanto, era porque tudo corria bem.

Ali eu já estava tranquila. Ainda aproveitei a anestesia para tirar uma pinta da barriga. No final da cirurgia, o Dr. Soubhi deitou no chão e começou a se alongar. Figura. Um pouco antes de sair da sala de parto, comecei a sentir uma coceira bizarra. Meus braços coçavam muito! Perguntei o motivo daquela coceira toda e a médica auxiliar falou que era por causa da morfina presente na anestesia. Até podia dar um remédio pra diminuir a coceira, mas tinha risco de reduzir o efeito da anestesia e aumentar a dor. Escolhi a coceira.

Sala de recuperação
Fui para a sala de recuperação, esperar sentir minhas pernas de volta e esperar vagar um quarto também. Parte chata essa! A sala, na verdade, é uma grande enfermaria, dividida em cabines. E você fica ali, deitada, olhando pro teto, pensando na vida. Na sua e na que você acabou de parir. Tem gente que dorme. Admiro e invejo! Tem gente que reclama da coceira. Tem gente que pergunta se vai demorar pra sair daquele marasmo.

Conforme o efeito da anestesia passava (minhas pernas voltaram, uhuuu!!!), comecei a sentir uma dor beeem forte no corte da cesárea. A enfermeira me aplicou uma injeção e disse que só me liberaria pro quarto quando a dor diminuísse. 10, 20 minutos e a dor persistiu. Analgésico via oral. 10, 20 minutos e a dor persistiu. Marina desistiu. Entendeu que a dor não iria embora e mentiu. "Diminuiu a dor. Pode me liberar".

Quarto 
Cheguei no quarto quase duas da tarde. Familiares, amigos, filhos de amigos... todo mundo esperando pra dar os parabéns e saber como eu estava. Sentia tanta dor que, ao ver aquela pequena "multidão" à minha espera, cogitei pedir que me levassem de volta à sala de recuperação. O Felipe foi pro quarto logo depois, dormia um sono gostoso. Eu, sem forças, tentava contar da anestesia, da cirurgia, enfim... Cada risada, uma pontada!

No meio disso tudo, teve o momento amamentação. Um capítulo à parte, conforme contei em outro post. Recebi muitas visitas, o Felipe ganhou um monte de coisinhas novas e, ao final do dia, só me sobrou o cansaço. E a dor no corte. Lá pelas 11 da noite, duas enfermeiras foram me ajudar a tomar banho. Levantar da cama: missão impossível. Não conseguia estender o tronco, parecia uma velhinha corcunda.

E aí, no dia seguinte, um pouco menos de dor, um pouco menos de ansiedade e muito mais intimidade com o Felipe. De repente, você vira expert em "mamadas", segura o bebê com total desenvoltura e quer contar tudo isso para as visitas. Esse processo dura até o último dia de internação, quando você quase não sente mais dor, já está familiarizada com a cria e tudo vai às mil maravilhas. A tranquilidade a um botão vermelho de distância. É só chamar que a enfermeira resolve. Conselho de amiga: aproveite cada instante de paz na maternidade. Porque chegar em casa é um outro parto.




10 comentários:

  1. Adivinha quem caiu no choro aqui lendo esse post? Ai Nones, ceis me matam do coração com tanto amor. Lembro tão bem da carinha do pequeno quando cheguei pra vê-lo. Da última vez que tinha falado com vc ele ainda não tinha nome, quando cheguei, era Felipe. E eu tinha o maior gosto de dizer pra todo mundo que o Felipe, meu sobrinho mais novo, tinha nascido e era lindo e perfeito e que você estava indo maravilhosamente bem no papel de mãe, toda cheia de intimidades e jeitinhos de quem pegou experiência logo de cara. Instinto, né? Dizem que nunca falha.

    Muito, muito obrigada por dividir com a gente essas emoções aqui no blog, mas obrigada mais ainda por me permitir estar perto. Amo você e a família que você formou.

    Muitos beijos!

    Tia Tchones S2

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  2. Lindo Ma,
    Mas fiquei com medo de ter um bebê, só se for parto normal. Ai que medo desse corte, das 7 camadas então nem me fale!
    Lindo e sem frescuras, texto real!

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  3. que gostoso ler tudo isso...duvido que por aqui o pessoal tenha este tal vidro, brasileiro é festeiro e quer dividir todos os momentos, interessante....má, o gale tava tranquilo e te acalmou?...eu acho que o Vi vai estar mais nervoso que eu...ahahaha...bjsss

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  4. ...estou rindo sozinha...uffaa e que alívio!! Estou rindo pq lembrei que eu era uma das "visitas"...hahahaha, a gente acha que está ajudando...e confesso que fiquei chocada vendo vc e Felipe na primeira mamada. Mas, tb amei poder estar ali com vc!

    Máááá estou adorando poder acompanhar sua fase de mãe,aproveito para matar a saudade! E quero saber mais:... chegando em casa com um bebe nos braços!!

    bjão

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  5. Ci,
    você participou de todos os momentos do Felipinho... O antes, o durante, o depois. Até me convenceu a fazer o chá de bebê e comprar muambas na 25 de março com 8 meses de gravidez!

    E quando o bebê virou Felipe e a Marina virou mãe, você também esteve por perto. Como já disse, uma das grandes surpresas do Mackenzie.

    Só que anda muito sumida ultimamente e morremos de saudade. Assim não dá! Apareça (aqui no blog e em casa).

    Muitos e muitos beijos, da Nones que te ama!

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  6. Bru,
    o parto, apesar de tudo é bem tranquilo. A única coisa meio chatinha é a dor no corte, que dura uns dois dias.

    Mas vou te falar que todas as minhas amigas que tiveram parto normal AMARAM. E se recuperaram beeeem mais rápido!

    Obrigada por acompanhar o blog!

    Beijinhos

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  7. Ju,
    realmente esse vidro é bem coisa de gente festeira mesmo. Achei meio bizarro no começo, mas só de ver a emoção dos meus pais, me convenci da utilidade do tal vidro!

    O Gale estava SUPER tranquilo e isso me acalmou muito! Ele ficava vendo cada gesto do médico. E ainda por cima, soltava uns comentários do tipo "nossa, tá saindo fumaça"! hahahaha Sem noção.

    Tenho certeza que quando for sua vez, o Vini vai estar do seu lado de corpo e alma, como sempre. Pra compartilhar tudo - a emoção, o nervosismo, o orgulho, as lágrimas e o sorriso.

    Que bom que você lê as minhas peripécias como mãe! É um jeito de estarmos mais próximas, apesar da distância oceânica.

    Um monte de saudade.
    Beijos mil

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  8. Melãoooo,
    é óbvio que se ninguém estivesse lá pra me visitar eu teria ficado deprimida! O melhor momento para uma recém-mãe receber visitas é na maternidade mesmo, quando as enfermeiras te ajudam em tudo.

    Só que nas 5 primeiras horas logo após o parto, a dor é bem desagradável... Dói até pra falar.

    E pode ter certeza de que eu também amei ter você do meu lado naquele momento tão desajeitado e especial.

    Mesmo distantes, saiba que te tenho sempre por perto.

    Continuamos na torcida pelo amigo (ou namorada) do Felipinho!

    Beijo beijo

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  9. Fantástica a descrição de tudo isso!!!!!!!!!!! Relembrei de cada momento vivido, até me emocionei - rsrss. Dá vontade de abri um bate papo -rs. Parabéns. Alessandra Tierno Di Izeppe

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  10. adorei ler tudo isso marina,muitas coisas senti igualzinho,,,engraçado e misterioso,todas nos com praticamente as mesmas inseguranças....mistos de emoçao,medo,ansiedade,euforia...afff ione rio

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