terça-feira, 2 de agosto de 2011

Eu não chorei no parto

A minha gravidez foi uma coisa meio abstrata. Explico: ter um filho naquele momento não era meu sonho de consumo. Não era um evento super-esperado. Aconteceu. E tudo bem, porque, afinal de contas, a vida estava nos seus conformes. Então, mantive uma relação meio distante (se é que isso é possível) com a minha barriga.

Não tive nenhum sintoma incômodo de grávida (tipo enjoo, dor na coluna, etc). Levei uma vida bem normalzinha. Se não fosse pela barriga que teimava em crescer (e a bunda também) e pelos chutes revoltados do bebê, eu nem diria que esperava um filhote. Meio largada, assim mesmo.

Não fui daquelas grávidas que trava altos diálogos com o pequeno ser, ou que alisa a barriga o dia inteiro. Não planejei o quarto nos mínimos detalhes e muito menos as lembrancinhas da maternidade. Aliás, só me dei conta das tais lembrancinhas dois dias antes do parto. Não fiz milhares de planos pro meu filho. E não li trocentos livros de auto-ajuda destinado aos futuros (e curiosos) pais. (Tá, li um sobre gravidez, para entender o que acontecia em cada fase da gestação). Não me imaginava amamentando, ninando, dando banho, trocando fralda. Tudo parecia distante da minha realidade. Tão distante que o Felipe nem nome tinha, coitado. Só fui decidir FELIPE depois do parto, quando colocaram ele grudadinho no meu rosto. (Não, ele não tinha cara de Felipe, nem de Bruno ou o Caio, que eram as outras possibilidades. Havia, na verdade, uma propensão pelo Felipe mesmo).

E aí chegou o dia. Com hora marcada, inclusive, porque o bichinho não demonstrava nenhum interesse em dar as caras nesse mundo estranho e cheio de perigos. Quarenta semanas e zero centímetro de dilatação. Assim, dia 9 de Janeiro fiz minha mala (pijamas e mais pijamas, sutiãs gigantes, cinta, artigos de higiene, absorventes tamanho “jumbo”, máquina fotográfica etc) a do bebê, e fui dormir. Mentira. Não dormi nada. Fui comemorar o aniversário de uma super amiga minha, na casa dela. Ninguém acreditava que, no dia seguinte, eu iria “dar a luz” (licença poética). Nem eu! Lá pelas 23 hs, meu marido liga: “Escuta, você, por acaso, vai direto pra maternidade?”. Ok! Hora de (tentar) descansar um pouco. A última noite livre da preocupação eterna que habita a cabeça das mães.

Às 7 da manhã, chegamos na Pró-Matre. Às 8, na sala de parto (não me alongarei nesse assunto, porque é tema de um futuro post). E às 8:47, o Felipe nasceu. E chorou. E foi apresentado aos seus pais. Jamais conseguiria descrever com palavras essa sensação. Só sei que, apesar de tudo, eu não chorei no parto. Me peguei pensando se eu sou um monstrinho insensível por causa disso…

Enfim… sala de recuperação da anestesia, uma dor sem noção no corte da cesárea, quarto, rever o filho e começar a construir a intimidade com ele. Aí, vem o capítulo “amamentação”. Você totalmente desajeitada (e com dor), o bebê ainda com pouca habilidade e a enfermeira em cima dos dois, tentando “fazer acontecer”. No meio desse caos, visitas. A pseudo-tranquilidade só retornou às 9 da noite, quando restamos eu, o Felipe e meu marido no quarto.

Aos poucos, eu e o pequeno fomos nos entendendo. Ele reclamava de fome, eu botava ele no peito e tudo bem. Até que, numa das mamadas, percebi que o Felipe engasgou e ficou vermelho, vermelho. O primeiro grande susto da vida de mãe. O pai pegou no colo, começou a dar uns tapinhas nas costas… E eu “chama a enfermeira, chama a enfermeira”. Só que ele não tinha como chamar a enfermeira com o Felipe no colo, e eu não conseguia levantar da poltrona por causa da maldita dor no corte. Pausa dramática. Consegui apertar o botão e a enfermeira chegou rápido no quarto. O Felipe já tinha voltado a respirar normalmente, mas ela disse que ele ficou meio “molinho”, então, era bom examinar, por precaução.

Na hora que ela saiu levando o Felipe no colo, senti uma angústia sem fim. Um desespero, em pensar que poderia acontecer alguma coisa com o meu filho. A gente se conhecia há menos de 24 horas, e, de repente, minha existência só tinha sentido a partir da existência dele. Naquele momento, eu entendi que pouco importava se eu havia ou não chorado no parto. Naquele momento, eu entendi que ele era mais importante que tudo.

21 comentários:

  1. Que lindo esse post. Lindo! Lindo!

    Eu nunca dei muita bola pra bebês, ou pra maternidade em geral, e achei esse seu texto muito bem colocado. Ótimo mesmo. Parabéns!

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  2. Você pode não ter chorado no parto, mas eu quase chorei (verdade) lendo esse post!
    Adorei!! Grande beijo

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  3. Chorei. E posso dizer uma coisa?? Acho que grande parte das mulheres sentiu exatamente as mesmas coisas (eu, por exemplo), só não teve coragem de assumir... Afinal, é tão bonito dizer que "falou com a barriga" e coisas do tipo... No entanto, estamos aí, mães super carinhosas, hiper dedicadas e que amam os filhos mais do que tudo. Parabéns, querida! Cada vez melhor...

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  4. Amei tudo, parabéns!! O blog está interessante e seu texto é muito gostoso de ler! Além de ser muito útil para as mães essa troca de experiências!
    Muito orgulho de vc!
    Beijos!!

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  5. Miss Sbaile,
    eu também não pensava em maternidade assim, tão de repente. Mas aconteceu. E na hora que ele nasce, você vira mãe. Automático. Aí, você descobre que todos aqueles clichês relacionados à maternidade cumprem muito bem o seu papel.
    Obrigada pelo elogio, volte sempre e me encha de alegria com seus posts no www.csnpm.wordpress.com
    Beijo

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  6. Fer, linda!
    É... agora, em compensação, eu já me peguei chorando em váaarias ocasiões.
    E quando você vai providenciar o seu???
    Beijos e saudade!

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  7. Alê,
    a gente se culpa de tudo, né? De sentir, de não sentir, de fazer, de não fazer. E é isso mesmo. Do nosso jeito, meio torto, meio direito, vamos aprendendo a ser mãe...
    Fico feliz com suas visitas frequentes!
    Aceito sugestões de temas, inclusive!
    Beijo grande!

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  8. Bubs,
    obrigada pela força! Você sempre me incentivou, né?
    E vai treinando com o Fernandinho, porque eu não tenho irmãos e quero ser tia logo!
    Beijo e volte sempre.

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  9. Pois fifs,fui muito diferente de você. Durante a gravidez, não fiz ultrassom, não se fazia qd vc era um feto. Não sabia o seu sexo, mas descaradamente, queria muito ter uma filha. Queria por vestidinhos, queria dar bonecas, queria alguém com quem eu pudesse me identificar. Não sabia lidar com pipis! Curti demais o meu bebê e, sim, passava a mão na barriga, conversava com a barriga quando o bebê (você) dava seus chutinhos e seus chutões. Quando você nasceu, quando o médico disse que era uma menina, eu fiquei muito feliz, só reclamei no momento em que ele me mostrou você e eu disse:"mas ela é a cara da minha irmã!!!" Filha, não sei como você é como é, porque eu fiquei seis meses com você pendurada em mim, no meu colo, grudadinha mesmo. Era um prazer enorme segurar o meu bebê. Até que, aos 4 meses, você virou uma vomitadora contumaz. Diagnóstico do pediatra:alergia ao meu leite. Tratamento: Sobee e benzedeira. O Wagner, seu pediatra, recomendou mesmo um benzimento. No creo ne las bruxas, pero.... Fiquei apavorada de que meu leite secasse e eu não pudesse mais te amamentar. Seguimos à risca e depois que a benzedeira desvirou seu bucho e retirou os quebrantes, voltei a amamentar. Meu leite voltou e você mamou só até os 7 meses, pois aí secou mesmo.
    Enfim, fifs, te digo te digo, ser mãe é a experiência de viver um amor oceânico. Bicocas da Moms.

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  10. Má,
    Preciso ajeitar a vida aqui, sabe como é...
    Mas falando nisso...
    Sabe que nos últimos tempos me peguei pensando nessas coisas....(INÉDITO)
    De duas, uma:
    Ou é a idade...
    Ou, a culpa é sua com esse blog lindo!!! kkkkkkk
    Beijãooooooo

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  11. Má...muito legal...vc escreve super bem e de uma forma que, quem já pssou por isso, se identifica completamente....
    O filha virou mãe achei fantástico também...super engraçado...pois é exatamente o que passamos....O maior amor do mundo mas bem recheado de várias situações hilárias né, que na horá é fod, mas depois rachamos o bico quando lembramos...Aguardo próximo post!!! Beijão Ju

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  12. Ju,
    amei que você veio parar aqui também! Muito obrigada pelos elogios...
    E legal ver que as pessoas se identificam. Por mais que maternidade seja uma experiência bem particular, os perrengues, as alegrias, as descobertas devem ter bastante coisa em comum entre mães do mundo inteiro!
    Beijo na família e no pequeno xerox!

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  13. Fer,
    nossa... Se o meu blog pode ter despertado uma pontinha dessa vontade em você, acabei de ganhar meu dia.
    Beeeijo querida!

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  14. Má!!!! Amei o blog!!! Saudades de vc e do Felipe! Viu, acho que quando for mãe, vou sentir a mesma coisa... Sei lá, de repente a gente precisa passar por um sustinho pra sentir o quanto amamos, né? Cada um reage de um jeito e a maior demonstração de que vc ama seu filho jamais seria pq chorou ou não na hora do parto... mas sim pela maravilhosa mãe que se tornou desde o dia em que saiu da maternidade! Beijos

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  15. Má, adorei!!! Principalmente porque esta experiência está fresquinha na minha memória, afinal acabei "virar mãe", há exatos 33 dias... Mas, mais que isso... me identifiquei muitoooo.. Minha gravidez tb não foi planejada, mas tb nao foi evitada... tb fui uma grávida sem frescuras, sem sintomas, dirigindo e fazendo academia até o ultimo dia...nada de ficar alisando a barriga..rsrs Fomos para os EUA fazer o enxoval e queria mais era ir aos outlets fazer compras para mim... entrava nas lojas de crianças e não me identificava com aquilo... meu marido disse: 'Ela vai ter que nascer para vc realizar...' Pura verdade...Eu chorei no parto da Manu, aliás, chorei muito ANTES, porque não queria fazer cesárea e fiquei com líquido baixo e não teve jeito... me senti indo pra forca...kkk Mas, depois que nasce... Hoje, com 33 dias, a vida virada ao avesso, sono picado, cheiro de leite, jatos de côco e tudo que importa é este "serzinho" lindo... Parabéns Má, demais o blog, li tudo, vou acompanhar sempre... bjos da sua amiga das antigas... Quase 30 anos? Quem diria... outro dia estávamos brincando na casinha de bonecas, lembra?

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  16. Paulinha, tia torta! Afinal, se o Felipe se parece comigo, também se parece com você...
    Que bom que gostou do blog, e melhor ainda ouvir das pessoas queridas que você se tornou uma boa mãe.
    Saudade enorme.
    Beijos

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  17. Rê,
    essa do outlet foi demais. Senti EXATAMENTE isso, quando fiz o enxoval do Felipe. O que eu menos queria era entrar em loja de bebê. Queria ficar comprando coisas pra mim. Hoje, se fosse pra lá, penso no tanto de roupas e brinquedos que traria pro Felipe. E isso mostra que, quando viramos mãe, tudo fica para um segundo plano. Tudo e todos estão atrás do seu filho... Mas... só depois que ele nasce, pra saber, pra sentir.
    Lembrei outro dia da sua casinha de bonecas. Eu amava aquele lugar. Aliás, tenho tantas lembranças da nossa infância... E agora, a brincadeira virou verdade. Cada uma com seu filhote debaixo do braço, se virando nos 30 pra dar conta dessa difícil e maravilhosa função!
    Quero conhecer a Manu!
    É... chegando nos 30! E vc tá um pouco na minha frente! Dia 21 tá aí!!!
    Beeeijos mil e muitas felicidades pra família!

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  18. Marinoca linda, só agora consegui parar para ler seu blog...que delícia! Que vontade e que medo de ter filho!...Sou produto de uma gravidez nao planejada (conscientemente, claro..rs) e minha mae sempre fala, "se eu nao tivesse tido vc, nao teria tido filho, vc foi minha única gravidez!".....lindo, né?....

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  19. ..como assim? Além do desconforto de "parir" ainda precisa usar um mega absorvente???

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  20. Mê,
    para compensar os nove meses que ficamos sem menstruar, depois do parto você tira todo o atraso... São alguns dias alagados. Mas depois passa! Esse é o menor dos problemas!!!

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